Selecione abaixo uma Cidade

Minério de Parauapebas só dura mais 20 anos, aponta nova projeção da Vale

  • Compartilhe:

24 abr

Mesmo diante de esforços para prolongar a exploração do minério de ferro na Serra Norte de Carajás, a Vale, maior mineradora do Brasil, confirmou que a exaustão das jazidas em Parauapebas ocorrerá até 2045. A informação consta no relatório anual da companhia, entregue à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), analisado com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu.

A nova estimativa — considerada a mais precisa já feita — inclui não apenas as minas em operação (N4 e N5), mas também N1, N2 e N3, cuja entrada em atividade está prevista para 2025. Pela primeira vez, a mineradora levou em conta também o rejeito da barragem do Gelado, que poderá ser reaproveitado em futuras lavras. Ainda assim, o volume de minério estocado nessas fontes é modesto e não altera a previsão de esgotamento.

Se dependesse apenas das tradicionais minas de N4, operando desde 1984, e N5, desde 1998, o fim do ciclo ocorreria em apenas dez anos. A previsão de esgotamento em 2045 foi possível graças à incorporação de fontes marginais de minério, mas não se trata de um alívio definitivo. A quantidade recuperável dos novos pontos não representa sequer metade do que já foi extraído apenas em N4.

A produção atual da Vale em Parauapebas, de 88,2 milhões de toneladas métricas anuais — a menor em uma década — pode até antecipar o fim das reservas. Hoje, a Serra Norte possui 1,568 bilhão de toneladas de minério de ferro catalogadas, incluindo os 111 milhões de toneladas da barragem do Gelado. Para efeito de comparação, apenas os blocos C e D da Serra Sul, em Canaã dos Carajás, possuem mais que o dobro disso: 3,402 bilhões de toneladas.

Parauapebas sem plano B

Com a exaustão das reservas prevista, o futuro de Parauapebas como polo minerador está seriamente comprometido. Entre 2028 e 2034, quando N4 e N5 concluírem seu ciclo operacional, o município deverá enfrentar forte queda na arrecadação de tributos como a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), ICMS e ISS. O impacto financeiro pode cortar pela metade a receita atual, sem que a cidade tenha preparado um modelo alternativo de desenvolvimento econômico.

O colapso iminente revela a ausência de um planejamento de longo prazo. Conhecida como “Capital do Minério”, Parauapebas apostou durante décadas na ilusão de que suas riquezas durariam para sempre. A realidade agora impõe uma transição dolorosa.

A virada de Canaã dos Carajás

Enquanto Parauapebas vive seu ocaso, Canaã dos Carajás desponta como a nova joia da coroa. Com lavras previstas até 2068 nos blocos C e D do S11D e possíveis expansões para os blocos A, B e a Serra do Rabo, a cidade caminha para se consolidar como o maior polo minerador do país.

A Vale avalia que as minas em operação hoje em Canaã não sairiam por menos de R$ 21,71 bilhões, valor superior ao de todas as minas restantes em Parauapebas, estimadas em R$ 15,34 bilhões. E, embora a mineradora tenha anunciado um pacote de R$ 70 bilhões em investimentos “na região”, a maior parte será destinada justamente à ampliação da capacidade produtiva em Canaã e à mina de cobre de Salobo, em Marabá.

Parauapebas, por sua vez, ficará com os projetos já conhecidos, sem potencial de transformação socioeconômica e fadada a conviver com a nostalgia do apito do trem. O município que um dia foi sinônimo de progresso para o sul do Pará agora assiste, com melancolia, ao crescimento do vizinho que rejeitou no passado e que, hoje, se consolida como a verdadeira Terra Prometida da mineração brasileira.

whats