Há exato um ano, o Pará encerrava oficialmente o ciclo de vacinação contra a febre aftosa. A última dose foi aplicada em abril de 2024, em Marabá — município simbólico por ter sido pioneiro na imunização em 2007 e concentrar um dos maiores rebanhos do estado. Desde então, o território paraense assumiu um novo patamar sanitário que começa a refletir diretamente na expansão da pecuária e nas exportações do agronegócio local.


Com o status de área livre de febre aftosa sem vacinação, reconhecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) por meio da portaria nº 665/2024, o Pará passou a adotar um modelo mais rigoroso de vigilância sanitária. A Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Adepará) substituiu a imunização pela intensificação de inspeções clínicas, mapeamento de propriedades e ações de controle em áreas de risco. “Temos hoje um Serviço de Defesa robusto do ponto de vista técnico, administrativo e operacional”, afirmou Jamir Macedo, diretor-geral da Adepará. “Com a zona livre, podemos conquistar mercados mais exigentes como Japão, Canadá e Filipinas.”
Esse novo cenário sanitário também exige mais atenção dos pecuaristas. Sem vacina, qualquer suspeita de doença vesicular precisa ser imediatamente comunicada às autoridades. Para isso, equipes técnicas vêm sendo preparadas em conjunto com o Ministério da Agricultura e com a Gerência Estadual de Vigilância para Febre Aftosa (GEVFAR), garantindo a rápida resposta a qualquer notificação suspeita.

“A preocupação é detectar precocemente a doença e demonstrar sua ausência”, destacou a fiscal agropecuária Glaucy Carreira. Já a gerente de epidemiologia Samyra Albuquerque explicou que a capacitação dos veterinários segue protocolos internacionais: “Eles estão sendo preparados para agir em emergências sanitárias e seguir os mesmos procedimentos em casos suspeitos e em rotinas de pré-embarque.”
Atualmente, o Pará possui 19 Estabelecimentos de Pré-Embarque (EPEs) de bovinos vivos e lidera com 51,9% todas as exportações brasileiras de gado em pé. Em 2024, os bois vivos foram os principais responsáveis pelo crescimento de 113,9% nas exportações do grupo de animais vivos (exceto pescado), alcançando US$ 492,46 milhões. O Iraque liderou as importações, com US$ 233,05 milhões, seguido por países como Egito, Líbano, Marrocos e Jordânia.
No total, 76 países compraram produtos da pecuária paraense no ano passado. A China segue como principal mercado, com US$ 509,18 milhões (67,85% do total). Também se destacam Israel (9,72%), Hong Kong (5,92%), Emirados Árabes Unidos (3,19%) e Singapura (1,13%). A carne bovina responde por 94,08% das exportações do grupo de carnes, seguida dos miúdos bovinos (4,07%).
Com 26 milhões de cabeças, o Pará tem hoje o segundo maior rebanho bovino do país e manteve cobertura vacinal superior a 98% antes do novo status. Agora, o estado espera a chancela da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) em maio deste ano, que oficializará internacionalmente a nova condição sanitária. O reconhecimento abrirá portas para novos mercados e consolidará o estado como uma potência nacional da agropecuária.