Às vésperas da COP30 — anunciada pelo governo como a “COP da Floresta” — duas mulheres que viviam da floresta foram brutalmente assassinadas em Novo Repartimento, município do sudeste do Pará. As quebradeiras de coco babaçu Antônia Ferreira dos Santos, de 53 anos, e Marly Viana Barroso, de 71, foram encontradas mortas com golpes de arma branca e sinais de possível violência sexual.
As duas haviam saído na manhã de segunda-feira (3) para coletar amêndoas de babaçu, como faziam há décadas, quando desapareceram. Os corpos foram encontrados à noite, ao lado de um monte de frutos, cenário que expõe a violência que ainda marca o cotidiano das mulheres extrativistas na Amazônia. Até esta quarta-feira (5), ninguém havia sido preso.

O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) denunciou o crime como um ataque à luta das mulheres da floresta e cobrou dos governos estadual e federal uma investigação imediata.
“Antônia e Marly garantiam o sustento de suas famílias e defendiam a floresta. Esse crime atinge toda a luta das quebradeiras de babaçu”, afirmou o movimento em nota.
O MIQCB reforçou que a violência sofrida pelas quebradeiras não é um fato isolado, mas parte de uma rotina de ameaças, expulsões e ataques em territórios onde o extrativismo tradicional resiste à pressão do agronegócio, da grilagem e de empreendimentos que avançam sobre áreas de floresta.
Entre o discurso verde e a realidade da Amazônia
O assassinato das duas trabalhadoras escancara o abismo entre o discurso e a realidade na Amazônia. Enquanto Belém se prepara para receber, em 2025, chefes de Estado e investidores internacionais com promessas de um “capitalismo verde”, as verdadeiras guardiãs da floresta continuam desprotegidas e esquecidas.
“Não se trata de um caso isolado. A violência contra trabalhadoras e trabalhadores extrativistas é uma constante na região. Conflitos por terra, exploração de recursos e omissão estatal compõem um cenário de insegurança e impunidade que se repete há décadas”, afirma Rosi Pantoja, da direção estadual da CSP-Conlutas no Pará.
“O fato é que, enquanto Belém instala tapetes e palcos para receber governantes, bilionários e empresas, comunidades amazônicas enterram suas mulheres”, denuncia.
Os corpos de Antônia e Marly foram sepultados sob dor e indignação, em um Pará que segue liderando o ranking nacional de violência no campo. Às margens do discurso global sobre sustentabilidade, o sangue de quem realmente vive e protege a floresta continua sendo derramado.
