Durante a sessão desta terça-feira (11), na Câmara Municipal de Marabá, vereadores denunciaram o que chamaram de “farra de contratos sem licitação” firmados pela Prefeitura de Marabá com empresas de fora do município, enquanto o comércio local enfrenta uma das piores crises dos últimos anos.
O vereador Marcos Paulo da Agricultura (PDT) usou a tribuna para expressar a revolta do empresariado local diante de um esquema de adesões de atas de registro de preços — instrumento que permite a contratação sem licitação — beneficiando majoritariamente empresas de outros estados. Segundo ele, já passam de R$ 100 milhões os contratos celebrados dessa forma, em detrimento das empresas marabaenses.
“Tem muitos empresários que ainda não fecharam, mas estão passando por dificuldades. O último relatório do secretário de Planejamento mostrou que a prefeitura tem mais de R$ 406 milhões em caixa, mas as licitações não estão acontecendo. Quando a gestão adere atas de empresas de fora, o dinheiro deixa de circular na cidade. Isso está matando o comércio local”, alertou o vereador.
O presidente da Câmara, Ilker Moraes (MDB), endossou a preocupação, classificando como nociva a prática da atual gestão do prefeito Toni Cunha (PL). Segundo ele, “Marabá vive um momento de fragilidade econômica, e a prefeitura precisa olhar com mais responsabilidade para quem gera emprego aqui”.
Economia desacelera: mais de 500 empresas encerraram atividades em três meses
Dados do Mapa de Empresas, elaborado pelo Governo Federal, revelam que a economia de Marabá vive um cenário de retração. Somente entre julho e outubro de 2025, mais de 500 empresasencerraram suas atividades — sendo 237 em julho, 180 em agosto e 211 em outubro.

No mesmo período, o número de novas aberturas caiu: foram 449 em julho, 480 em agosto, 467 em setembro e apenas 422 em outubro. Atualmente, o município soma 22.958 empresas ativas, mas o ritmo de expansão é o mais lento dos últimos anos.
O CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) confirma o alerta: o saldo de empregos formais também caiu em setembro, mostrando que a atividade econômica local perdeu força.
Enquanto a região avança, Marabá perde terreno
Enquanto Parauapebas e Canaã dos Carajás registram crescimento na geração de empregos e abertura de novos empreendimentos, Marabá segue estagnada, mesmo com localização estratégica e estrutura logística privilegiada.

Economistas ouvidos pelo portal apontam uma combinação de fatores que ajudam a explicar o desaquecimento:
• Dependência excessiva do setor mineral e retração das indústrias locais;
• Burocracia e carga tributária que desestimulam o empreendedorismo;
• Consumo em queda e endividamento das famílias;
• Ausência de políticas municipais de incentivo e inovação, como programas de incubação e desburocratização.
“Marabá tem potencial industrial, comercial e logístico para ser o polo mais dinâmico da região. O problema é que o dinheiro não está ficando aqui — nem o público, nem o privado”, observa um economista local ouvido pela reportagem.
Risco de agravamento
Sem mudanças de rumo, analistas projetam que o quadro pode se agravar nos próximos meses. A concentração de contratos públicos em empresas externas, aliada à falta de incentivo ao empreendedor local, tende a ampliar o número de demissões e fechamentos.
A crítica dos vereadores reflete o sentimento de frustração de empresários que investiram em Marabá, mas não conseguem competir com empresas de outros estados contratadas pela prefeitura.
“Quando o dinheiro público é gasto fora da cidade, quem perde é o povo”, concluiu Marcos Paulo.
