A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) mergulhou em uma crise financeira sem precedentes que ameaça não apenas o funcionamento básico da instituição, mas também a permanência de estudantes e servidores. A situação, que já vinha se deteriorando devido aos sucessivos cortes orçamentários impostos à educação pública federal, chegou a um ponto crítico nesta semana, com a suspensão de serviços essenciais e o anúncio de greve dos técnicos administrativos.


Desde a noite de quarta-feira (21), os serviços de vigilância nos campi da Unifesspa em Marabá estão paralisados. A empresa terceirizada responsável pela segurança suspendeu as atividades por tempo indeterminado após sete meses sem receber pagamentos. A dívida acumulada chega a quase R$ 3 milhões. Com isso, os portões da universidade foram fechados à noite e o acesso de veículos particulares, restringido — sendo permitida apenas a entrada de pedestres —, numa tentativa de conter os riscos à segurança.
A situação é ainda mais crítica nos campi localizados fora de Marabá, onde a responsabilidade pela segurança foi repassada aos diretores de institutos. No entanto, muitas dessas unidades sequer contam com muros ou portões, o que deixa a estrutura física da universidade completamente exposta.
Outro serviço afetado é o de limpeza. A empresa contratada para realizar a higienização dos espaços acadêmicos comunicou que reduzirá sua força de trabalho para apenas 30% do efetivo, como forma de manter minimamente as operações. A dívida da Unifesspa com a prestadora já ultrapassa R$ 1,5 milhão.
As contas em atraso também atingem a concessionária de energia elétrica. Sem efetuar pagamentos desde janeiro, a universidade acumula mais de R$ 500 mil em dívidas com a Equatorial. A empresa já notificou que, caso os débitos dos meses de janeiro a abril não sejam quitados, o fornecimento de energia será interrompido a partir de 8 de junho.

A crise ganhou um novo desdobramento nesta quinta-feira (22), com a deflagração da greve dos técnicos administrativos da Unifesspa. A paralisação envolve mais de 200 servidores federais e se soma ao colapso dos serviços terceirizados, aprofundando o clima de incerteza dentro da instituição.
Diante do caos, manifestações internas começaram a emergir. O professor Fernando Michelotti, do Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional, publicou uma carta aberta criticando tanto a política educacional do governo federal quanto a atuação da reitoria da Unifesspa. “Sempre se escondendo atrás dos cortes orçamentários, essa gestão não teve competência de democratizar o debate sobre o orçamento […] preferindo uma política clientelística e eleitoreira de distribuição seletiva de favores”, escreveu.
Em resposta, a universidade divulgou nota oficial assegurando que, apesar da paralisação dos técnicos, as aulas seguirão normalmente em todos os campi nesta quinta-feira. “Reforçamos o compromisso com a transparência das informações e pedimos que, em caso de dúvidas, a comunidade consulte os canais oficiais da Unifesspa”, diz o comunicado.
O cenário atual lança dúvidas sobre a capacidade da instituição de manter suas atividades no curto prazo. Em uma região onde a presença da universidade é crucial para o desenvolvimento social e econômico, a crise da Unifesspa reflete o abandono de políticas públicas voltadas à educação superior e escancara os efeitos da negligência orçamentária sobre o ensino, a pesquisa e a permanência estudantil.
Com informações de Ana Mangas, via Portal Correio de Carajás